PITA FOGO BARRETOS

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sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Parte 2: As divisões da zona

A zona do meretrício dos tempos áureos era dividida em duas classes. A elite esparramava-se pela cidade a partir do antigo “Bar do Costa”, na esquina da rua 20 com avenida 15. O baixo meretrício situava-se lá no “Outro Mundo”, como se chamava o bairro Fortaleza, nas imediações das avenidas 1,3 e 5 e ruas 22 e 24. Ali se instalava o famoso Bico do Pavão.

No livro “Espiral – História do Desenvolvimento Cultural de Barretos”, Ruy Menezes conta que “pouca gente que se prezava tinha coragem e disposição para passar ali, mesmo durante o dia. Zona conflagrada por excelência, mulheres de nula categoria, peões embriagados, dando tiros para o ar no meio da rua e enchendo os botequins onde a cachaça era sorvida à larga”.

As “casas de tolerância” de primeira classe eram freqüentadas por fazendeiros, milionários, políticos, comissários de grandes boiadas e personagens da sociedade de Barretos, região e outros Estados. Em algumas residências e cabarés, não eram permitidas pessoas negras, mulatas, cabelo carrapicho e pobres. Os porteiros mandavam a “gente de segunda categoria” freqüentar o “Bico do Pavão”.

O jornalista Ruy Menezes relata que no meretrício “compunha-se o mulherio de todos o tipos e feitios, desde as belas ‘paraguaitas’ às bonitas morenas de Araguari ou de Uberaba, até as indefectíveis francesas, uma fauna à parte em meio às paisagem humana de Barretos. Bem vestidas, com exagerados decotes, recamadas de jóias, entregavam-se à tardinha ao “trotoir” pelas ruas centrais da cidade, como se fossem mercadorias de luxo expostas em “vitrines” movediças. E ficavam até o início da primeira sessão de cinema às 19h30, quando, assistindo aos filmes, ocupavam, as mais ricas, os lugares de maior projeção e saliência, as “frisas”, enquanto as de “classe média” digamos assim, misturavam-se ao povo da platéia. Depois, as noitadas nos cabarés. Porém, era no carnaval, que as “marafonas” se destacavam muito.

Cavalheiros e coronéis, assíduos nos prostíbulos, subiam nas mesas e atiravam notas de 500 mil réis – denominadas ‘caolhas” – para as “mariposas”. Alguns faziam cigarros com o dinheiro, colocavam fogo e fumavam, numa demonstração e poderio econômico, incentivando as mulheres para a orgia. Alguma donas de casa e prostitutas, ludibriavam os fregueses, aumentando a conta enquanto os “trouxas” estavam distraídos na farra.



2ª parte de reportagem publicada no jornal O Diário, edição de 19 de maio de 1991, sob o título “Do Bico do Pavão a Rosinha da Porteira”

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