PITA FOGO BARRETOS

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sábado, 9 de outubro de 2010

O santo de Barretos

O calendário assinalava 1908 ou 1909. Muitas pessoas passaram a abandonar as roças, os lares, para seguir um “santo” – de carne e osso – que aparecera na região da Lagoinha.

São Francisco Miotti era o “santo”. E ninguém sabia de onde vinha aquele italiano de baixa estatura, com calvície incipiente, cabelos longos, bigode espesso e barba comprida.

Conta Alcebíades Menezes que “o santo” fazia vibrações ininteligíveis, misturando um dialeto italiano com algumas expressões em péssimo português.

E rezava extensas ladainhas ao pé de cruzes, obrigatoriamente de cedro tosco, que ia plantando por onde passava.

Carregava ainda uma forma de folha de Flandres, muito enferrujada, em que moldava enormes velas de cera virgem, com que iluminava o seu culto que estendia até altas horas da noite.

A fama de milagres do “santo” começou a atrair muita gente.

As autoridades locais temiam pela “perturbação da ordem”, principalmente quando alguém contestasse a santidade do estranho indivíduo. E não houve alternativa senão pedir apoio à polícia estadual.

A Força Pública mandou então para Barretos uma “captura” formada por uns dez ou doze soldados bem armados e municiados, comandados pelo alferes João Antonio de Oliveira, o famoso tenente Galinha.

Ao saber da identidade do comandante da expedição, a multidão que estava acampada com o “santo” numa fazenda próxima de Olímpia, debandou-se.

A “captura” deteve o “santo” e recolheu-o na cadeia de Olímpia. Segundo Roque Félix, que conheceu São Francisco Miotti no xadrez, levado pelas mãos do tenente Galinha, um grupo de velhas acompanhava à pequena distância a movimentação na prisão.

Dos objetos arrecadados de São Francisco Miotti, fizeram um leilão. Com a renda, compraram o sino que serviu na cadeia de Olímpia durante muito tempo.

As velas de cera virgem, usadas pelo “santo” no culto, eram guardadas como lembranças.

O tenente Galinha levou São Francisco Miotti para a capital paulista. Segundo Alcebíades Menezes, o “santo” foi internado no hospício de Juqueri, onde terminou seus dias como excelente jardineiro. A imprensa paulistana da época o chamava de o “Santo de Barretos”.



Publicado originalmente no jornal O Diário de Barretos, edição de 31 de março de 1993

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