PITA FOGO BARRETOS

PITA FOGO BARRETOS

domingo, 31 de outubro de 2010

Guarani é campeão da Série B2 do varzeano

O estreante Guarani é o campeão da Série B2 do campeonato varzeano da Liga Barretense de Futebol, temporada 2010, depois de vencer a Igreja Batista Reviver por 3 a 2, em dois jogos consecutivos.
O time campeão também conseguiu o acesso e tem o direito de disputar a Série B1 do campeonato varzeano em 2011.

A Igreja Batista Reviver é a vice-campeã da Série B2 e vai disputar a Série B1 no ano que vem.

sábado, 30 de outubro de 2010

PARTE 4 – Aumenta a fama de santidade

O crime considerado “hediondo” pela imprensa da época chocou e comoveu a cidade. O povo começou a visitar o túmulo da jovem:

-- Uma alma santa!

-- Uma inocente!

-- Uma virgem!

E começaram as orações, romarias, pedidos e promessas junto a tumba. Muita gente buscando lenitivo para seus padecimentos. A fama de santidade de Maria Aparecida começou a correr....
AQUINO JOSÉ NA ENTRADA DA CAPELINHA AO LADO DO CÓRREGO DO GAIÓLA

No Ibitu, outrora Itambé, populares construíram uma capelinha no lugar onde Maria Aparecida foi assassinada. A “igrejinha” está localizada ao lado de um canavial, próxima ao Córrego do Gaióla, na Fazenda Santa Luiza, de propriedade de Silvio Tomazini. Na semana que antecede a finados, havia no interior da edificação, uma cruz de madeira, vasos com flores, uma bíblia velha e duas bandeiras de Santos Reis penduradas ao teto.
INTERIOR DA IGREJINHA CONSTRUÍDA NO LOCAL ONDE A JOVEM FOI ASSASSINADA

Alguns moradores do Ibitu afirmaram que muita gente vai visitar o lugar onde o corpo da “santinha” foi encontrado.

-- Quando o sol forte castiga a roça e o mantimento está perdendo, o povo faz caminhada de penitência pedindo a intercessão de Maria Aparecida. E a chuva vê...., contou dona Luiza Lemos Gonçalves, uma moradora do distrito.

Maria Aparecida Conceição repousa na sepultura perpétua número 741, na quadra 1 Adulto. Defronte ao túmulo, foi construído um local apropriado para a queima de velas. Imagens, flores, terços, quadros, fotos, orações.... são deixados em sua tumba como lembranças de promessas. A busca de proteção, milagres e graças, atrai uma verdadeira romaria de devotos, principalmente às segundas-feiras da Quaresma e no Dia de Finados.
TÚMULO DE MARIA APARECIDA CONCEIÇÃO NO CEMITÉRIO MUNICIPAL  DE BARRETOS

4ª e última parte de reportagem publicada originalmente no Jornal O Diário, edição de 10 de março de 1991, com o título “Maria Aparecida Conceição: a santinha de Itambé”.

PARTE 3 – O assassino foi pra Casa de Detenção

O baiano Antonio Pires Cordeiro estava amasiado com a mãe de Maria Aparecida e trabalhava para José Neves Paixão, cuja família lhe dedicava muita estima.

-- Ele era muito trabalhador....., garantiu Doca.

Em outubro de 1942, o juiz Washington de Barros Monteiro determinou que o preso fosse conduzido sob escolta a Casa de Detenção de São Paulo.

Segundo Doca, na Casa de Detenção, Antonio Pires Cordeiro aprendeu e tornou-se um carpinteiro talentoso, gozando inclusive de certas regalias em virtude do bom comportamento. Seu ex-patrão sempre o visitava, insistindo para que ele retornasse a Barretos quando saísse da prisão. O detento sempre declinou o convite.

Ainda não se sabe o destino de Antonio Pires Cordeiro, bem como de Josefa da Conceição e sua filha Isaura Santana. Após o crime, a mãe e a irmã se mudaram de Itambé, não dando mais notícias.


3ª parte de reportagem publicada originalmente no Jornal O Diário, edição de 10 de março de 1991, com o título “Maria Aparecida Conceição: a santinha de Itambé”.

PARTE 2: Tirada a algema, o sangue jorrou

O corpo de Maria Aparecida Conceição foi conduzido até a Cadeia de Itambé (atualmente Ibitu) – onde hoje há um poço artesiano – sendo colocado numa mesa à espera da autoridade policial de Barretos.

-- Na sala onde o corpo ficou, pingava sangue vivo, formando uma poça que nunca secou. Muita gente não acredita, mas mesmo passado algum tempo, quando lavavam o piso da Cadeia, saía sangue vivo...., contou Abília Neves Paixão, a Doca, entrevistada aos 65 anos. Ela lembrou que na época do crime tinha 17 anos e foi uma das pessoas que encontraram o cadáver.

O corpo foi trasladado para Barretos num caminhão. Na capela do cemitério municipal, ficou à espera do legista. Muitos curiosos se aglomeravam para ver o cadáver.

O então funcionário municipal Sebastião Ferreira da Silva lembrou que o sangue continuava a pingar do corpo da jovem, sem talhar. Segundo ele, quando o médico chegou, não quis retirar a faca que ainda estava cravada no cadáver, pedindo que o assassino fosse trazido para efetuar tal operação.

-- Quando tiraram a algema de um dos pulsos do criminoso, o sangue jorrou do corpo da moça...., contou Sebastião Ferreira da Silva.

-- Ele deu a volta em torno da pedra e, de cabeça baixa, puxou a faca. O sangue correu na lâmina. Então, o delegado mandou retirá-lo rapidamente do local...., contou.

O ex-funcionário municipal recordou que Maria Aparecida foi enterrada com vestido branco, num caixão também branco. Um fato impressionou profundamente Sebastião Ferreira da Silva:

-- Quando peguei a morta para colocá-la no caixão, ela abriu os olhos e a boca. Parecia que queria dizer alguma coisa. Então eu disse: “pode falar”. Mas a moça não disse nada. Porém. Sua expressão me marcou para sempre.


2ª parte de reportagem publicada originalmente no Jornal O Diário, edição de 10 de março de 1991, sob o título “Maria Aparecida Conceição, a santinha de Itambé”.

PARTE 1: Maria Aparecida Conceição, a santinha do Ibitu

Um homem entrou na venda de José Neves, no Itambé, às 20 horas, daquele 10 de março de 1942. Tinha a roupa manchada de sangue.

-- Cometi uma arte e quero me entregar.... – disse.

-- Mas que arte você fez?

-- Vá você mesmo ver, perto de um pequeno córrego próximo da vila, pouco acima do arrozal. Lá está o que fiz.

Eduardo Borsato, o subdelegado de Itambé, o farmacêutico Reinaldo Pereira e Pascola Beraldi foram ao local indicado. Chegando, viram muita gente cercando o corpo de uma jovem de 16 anos. Foi morta com um tiro e várias facadas. A faca ainda estava cravada do lado direito. A mãe da jovem, Josefa da Conceição, gritava:

-- O assassino é o Antonio!....

Antes de matar a moça, Antonio Pires Cordeiro a encontrou a caminho junto com a sua irmã Isaura Santana, de 13 anos. A família havia se mudado para a vila e as jovens iam buscar as galinhas que já estavam no puleiro quando escureceu.

-- Então você não quer casar comigo, está me tapeando há muito tempo, -- disse ameaçador aquele lavrador, baiano de Juciabi, de 32 anos.

Não ouviu a resposta abafada da moça, dizendo “sim”. Ele a derrubou e lhe deu um tiro e as facadas.

Para escapar, a irmã da vítima refugiou-se num brejo, atolando no meio das taboas.


 
1ª parte de reportagem publicada originalmente no Jornal O Diário, edição de 10 de março de 1991, com o título "Maria Aparecida Conceição, a santinha de Itambé".

domingo, 17 de outubro de 2010

Gado impulsionou economia da região

Com a realização da 1ª Exposição Regional de Animais de Barretos e a inauguração do Recinto “Paulo de Lima Corrêa”, tomou impulso a comercialização de gado em Barretos. As vendas durante a Exposição superaram Cr$ 3 milhões. Muitos outros negócios foram iniciados durante o evento.

Segundo a imprensa da época, José Amêndola Neto, o Zequinha Amêndola, teria recusado vender a elegante “Penicilina” por Cr$ 200 mil, animal que ainda não tinha 12 meses de idade.

Mamed Mussi deixou de vender “Fidalgo”, a maior atração da Exposição, por Cr$ 1,4 milhão. Contudo, o criador barretense Nemércio Vilele Lemos vendeu ao pecuarista Oliveira Neves, de Belo Horizonte, 320 vacas por Cr$ 6,4 milhões.

Durante o período da Exposição, foi abatida no Frigorífico Anglo, uma boiada com 450 cabeças com peso médio de 20 arrobas. A boiada era de propriedade de Raul Dahas de Carvalho, conhecido pecuarista barretense.

Nos primeiros 5 meses de 1945, foram abatidos em Barretos 59.181 cabeças de gado e 1.345 suínos. O movimento de embarque de bovinos em Barretos, pela Companhia Paulista, somou 76.547 cabeças no mesmo período. Outros meio de transporte não eram computados.

- Publicado inicialmente no jornal Rural do Vale, edição de 15 a 30 de abril de 1995.

Exposição marca inauguração de Recinto em 1945

A 1ª Exposição Regional de Animais de Barretos aconteceu nos dias 17,18 e 19 de março de 1945, com a inauguração do Recinto Paulo de Lima Corrêa. A mostra foi organizada pela então Associação dos Pecuaristas do Vale do Rio Grande, hoje Sindicato Rural. O evento teve o patrocínio do Governo do Estado.

Na época, a “Associação” tinha como presidente Raul dos Santos. O vice era Sandoval Coimbra e o secretário geral, Jarbas Pinheiro Landim. Os secretários eram Tomaz de Almeida e Lourival Ribeiro de Mendonça. Os tesoureiros eram Joaquim Alves Franco Filho e Aramis Teodoro de Oliveira. O prefeito de Barretos era Fábio Junqueira Franco.

A inauguração oficial da Exposição e do Recinto aconteceu no dia 18 de março, às 15 horas. Entre as autoridades que prestigiaram o evento, os destaques foram Fernando Costa, interventor federal no Estado; professor Melo Morais, secretário da agricultura; general Luiz Gaudie Ley, comandante da Força Policial do Estado; e Iris Meinberg, presidente da União das Associações Agro Pecuárias do Brasil Central.

A 1ª Exposição movimentou a região. Barretos recebeu cerca de 5 mil visitantes, segundo avaliação do jornal “Correio de Barretos”, em matéria do jornalista Ruy Menezes. A cidade nunca tinha visto até então um número tão grande de automóveis. Mais de 2 mil carros circulavam pelas ruas de terra, fato extraordinário em 1945.

Os maiores pecuaristas do País compareceram ao evento e muitas festas aconteceram nas sedes das fazendas das imediações e nas casas dos grandes nomes da época. A corporação musical da Guarda Civil do Estado de São Paulo abrilhantou a Exposição.

Foram expostos animais das raças Gir, Guzerá, Nelore, Indusbrasil, Raças Holandesas e Nacionais. Várias provas hípicas foram realizadas. Havia ainda a participação de eqüídeos, ovinos e caprinos em exposição. A premiação aconteceu no dia 19 de março no Grêmio Literário e Recreativo, com a entrega de taças, troféus e prêmios em dinheiro.

O campeão absoluto da 1ª Exposição Regional de Animais de Barretos foi “Fidalgo”, do criador Mamed Mussi, na categoria Gir Macho com 4 dentes. No evento foram gastos mais de Cr$ 156 mil. Os organizadores realizaram uma vaquinha, através de livro de ouro, ajudar na cobertura das despesas. Entidades assistenciais barretenses foram beneficiadas com a doação de colchões e travesseiros que serviram aos hóspedes da Exposição.

- Publicado inicialmente no jornal Rural do Vale, edição de 15 a 30 de abril de 1995

sábado, 16 de outubro de 2010

Beijinho e Negrão fizeram sucesso na capital

Pouca gente sabe que a afamada dupla barretense Zé Beijinho e Benedicto Adão esteve nos anos 30 em São Paulo, revelando aos paulistanos as belezas até então ignoradas da música cabocla brasileira. Lá na capital, a dupla cantou no rádio, nas redações de jornais e chegou a gravar discos.

Agradou tanto, que o “Diário Nacional” do dia 19 de janeiro de 1930, publicou uma crônica a propósito dessas apresentações. José Alves de Souza, o “Beijinho”, e Benedicto Adão, o “Negrão”, eram cantadores do sertão que Cornélio Pires descobriu em Barretos, destacava o jornal. E eles cantaram em São Paulo, numa alusão a encalhada produção de café paulista:

“Quagi todos os fazendêro

Andava de Chevrolé;

Já estão andando a cavalo

Com a baxa do café”.

Entre tantos outros pedidos, lascaram “Os canaro”:

“Moço e moça quando casa

Sempre casa de má fé

Os trabaio vão chegando

A botina aperta nos pé”.

E pelo que consta, a dupla agradou aos ouvidos da época. Tanto, que ousaram cantar um verso muito erótico para aqueles tempos:

"Eu fui nascido em Barretos,

Criado em Araraquara,

Moça que está doente,

Chupando meu beiço sara!...."



Publicado originalmente no Jornal O Diário de Barretos, edição de 10 de julho de 1988.




sexta-feira, 15 de outubro de 2010

CAPITULO 5 – Prá sacolejar o pelo

Depois de uns dez noivados, o coração de Zé Gonçalves foi conquistado pela jovem Luiza Lemos. Embora muita gente duvidasse do casamento, há 68 anos foram pedir a benção ao vigário e “passar o preto no branco”. Vieram uma porção de filhos, netos, bisnetos.... No Natal e Ano Novo, quando a família se reúne, é um povaréu alegre no lar. Nascido na Vila Nova, em Barretos, e radicado no Ibitu desde 1941, o ex-subdelegado tem 87 anos. “Mas ta firme e forte”, segundo o fotógrafo Pancho, que esteve lá proseando e tomando um “goró”, dias destes.

Zé Gonçalves acredita no progresso de Ibitu, que mudou muito. Antigamente havia muita casa de pau a pique, agora todas são de alvenaria. O povoado tem iluminação, água, asfalto, postinho de saúde e de polícia. E algumas reclamações:

-- Falta supermercado, farmácia e padaria.

De acordo com Zé Gonçalves o patrimônio de Ibitu atinge 45 alqueires. Porém, a área ocupada é menor.

-- Os fazendeiros tomaram conta de tudo.

Zé Gonçalves é compositor nato e guarda tudo na memória, sem nenhum registro escrito. Folião de Reis desde os 7 anos, garante que não para com a devoção. As festas de Igreja continuam em sua memória. Não perde uma quermesse. Sorrindo, confessou que aprecia uma dança gostosa:

-- A tal lambada!....

E arrematou:

-- Gosto de dançar forró com a patroa. É pra sacolejar o pelo.



Quinta e última parte de texto publicado originalmente no Jornal O Diário de Barretos, edição de 27 de janeiro de 1991, sob o título: “Zé Gonçalves, um xerife no Ibitu”

CAPITULO 4 – Até galo mudou de terreiro

Zé Gonçalves lembrou a história do furacão que arrasou o lugarejo em 1926, quando Ibitu era conhecido por Itambé. O vento e a chuva de pedra derrubaram tudo. Não ficou um telhado. O povo se escondeu debaixo das mesas e camas.

-- Até galo mudou de terreiro!, exclamou.

E logo em seguida, ressaltou:

-- Mas marido não mudou de terreiro.

Segundo Zé Gonçalves, a chuva de granizo acabou atingindo cerca de um metro de altura nos acostamentos da estrada. A Igreja foi destruída. Só restou apenas ruína. Apenas uma velha cruz de madeira lembrava o templo onde hoje está instalada a escola do Distrito.

-- Antigamente, Ibitu tinha mais movimento, pois todo mundo tocava lavoura e gerava mais empregos. Havia até depósito de algodão.

E recordou com saudade dos tempos áureos do lugar que já teve farmácia, padaria, cinema mudo e banda de música.

-- Ibitu tinha a melhor banda de música da região. Uma vez conquistou o segundo lugar num concurso em que disputaram ainda Barretos, Jaboticabal, Olímpia e Bebedouro. Jaboticabal foi a campeã.



Quarta parte de texto publicado originalmente no Jornal O Diário de Barretos, edição de 27 de janeiro de 1991, sob o título: “Zé Gonçalves, um xerife no Ibitu”

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

CAPITULO 3 – Dizem que o rapaz não tinha o “aparelho”

Zé Gonçalves mostrou duas cruzes, uma ao lado da outra, nas terras de Maria Neves. E contou uma tragédia dos tempos que ainda era menino

-- Um casal de namorados se suicidou neste local. O rapaz e a moça se amavam muito. Ele era sírio e ela filha de uma família daqui, que eu não lembro o nome. Foram encontrados mortos. Haviam se matado. Os dois estavam atados pelas mãos com uma gravata, num sinal de união. Parece que o moço deu um tiro no ouvido da moça e depois disparou contra sua própria cabeça. A história deu muito que falar. A vila ficou alvoroçada. Dizem que o rapaz não tinha o “aparelho”. Era inutilizado. Por isso, fizeram um pacto de morte.

A propriedade de Zé Gonçalves atinge cerca de dois quarteirões.

-- “Aqui eu tenho um pouquinho de tudo. Planto café, milho, arroz, laranja e mandioca. Quando preciso de uns cobres, vendo pros marreteiros.

Na chácara Gonçalves, a criação de porcos é destinada somente para o gasto. Há bastante galinha espalhada pelo terreiro. Não tem gado. Contudo, um animal é considerado de primeira linha:

-- Tenho uma mula que é um colosso. Seu nome é Campinas.



Terceira parte de texto publicado originalmente no Jornal O Diário de Barretos, edição de 27 de janeiro de 1991, sob o título: “Zé Gonçalves, um xerife no Ibitu”

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

CAPITULO 2 – Aquieta senão o pau quebra

Um dia, dona Erminda mandou o subdelegado Zé Gonçalves na venda. Ela não gostou das atitudes do soldado Jonas. O praça pegava o revolver e misturava a pinga num copo, diante dos olhares de menores. A mulher pediu providências para retirar os meninos do estabelecimento, pois não podiam ver mau exemplo.

-- Quando cheguei à venda, não entrei. Fiquei do lado de fora. Chamei os meninos e pedi que se retirassem. Disse que suas mães estavam chamando. Os garotos obedeceram. Porém, o soldado achou minha atitude uma desfeita e veio ao meu encontro.

-- Vou te dar um coro de gravata!, afirmava.

-- Quando ele pulou pra cima de mim, saltei de banda. Num relance, meti o pé no rim dele. Na hora o soldado caiu quebrado. Quando fui pra pisar em riba, o povo que juntou em roda não deixou.

-- Não ta vendo que ele ta quebrado, disseram.

-- Pois é! Eu quebrei a clavícula do soldado. Passado o entrevero, telefonei pra Barretos e contei o caso pro delegado. O doutor veio no Ibitu e achou que eu tinha agido certo.

No lugar onde havia as ruínas da cadeia do Ibitu a Prefeitura de Barretos perfurou um Poço Artesiano que abastece o Distrito. Há muito tempo não existe mais subdelegado no lugarejo.

-- Agora não tem mais isso. Os responsáveis pela tranqüilidade de Ibitu somos nós. Quando aparece alguém de fora querendo bagunçar o coreto o povo avisa: “aquieta senão o pau quebra”.



Segunda parte de texto publicado originalmente no Jornal O Diário de Barretos, edição de 27 de janeiro de 1991, sob o título: “Zé Gonçalves, um xerife no Ibitu”

CAPITULO 1 – Zé Gonçalves, um xerife no Ibitu

-- Zé Gonçalves vem aí!...

Estava dado o alerta à freguesia da venda.

-- Olha o bate pau do Ibitu!...

Assim os moradores da vila identificavam o subdelegado. Através de uma espécie de plebiscito haviam escolhido o representante do lugarejo perante a lei. Na década de 50, quando a autoridade da cidade quis nomear o novo subdelegado do Ibitu, o povo falou:

-- Ponha o Zé Gonçalves que é um sujeito de muito respeito. Ele diverte bem com todo mundo e dá respeito.

A partir de então, o novo “xerife” recebeu ordem para averiguar todas as queixas. Agia como espécie de Juiz das Pequenas Causas, contornando e resolvendo a desinteligências. A maioria das ocorrências era considerada corriqueira. De vez em quando a Cadeia hospedava alguns bêbados, que ficavam ali até curar o porre. Os soldados que trabalhavam sob a orientação do subdelegado ficavam numa casa perto do xilindró.

Durante o período de 8 anos em que permaneceu no cargo de subdelegado, Zé Gonçalves não registrou nenhum crime. Porém, o esporte era cenário para algumas desavenças.

-- Antigamente dava muita briga no futebol. Aliás, até hoje sai algum quebra-pau e catiripapos. As maiores rivalidades são com os times da Cachoeira e da Lagoinha.

Certa vez aconteceu um acidente pessoal e fatal:

-- Eu ainda morava na fazenda do João Estulano. Um rapaz saiu de trator carregando uma espingarda pra matar codorna. Ao passar pelo pasto, uma das rodas caiu numa cisterna velha, coberta pelo capim. Com o impacto, a arma disparou e o tiro pegou próximo ao umbigo do sujeito. O moço não resistiu aos ferimentos e faleceu.



Primeira parte de texto publicado originalmente no Jornal O Diário de Barretos, edição de 27 de janeiro de 1991, sob o título: “Zé Gonçalves, um xerife no Ibitu”

sábado, 9 de outubro de 2010

O santo de Barretos

O calendário assinalava 1908 ou 1909. Muitas pessoas passaram a abandonar as roças, os lares, para seguir um “santo” – de carne e osso – que aparecera na região da Lagoinha.

São Francisco Miotti era o “santo”. E ninguém sabia de onde vinha aquele italiano de baixa estatura, com calvície incipiente, cabelos longos, bigode espesso e barba comprida.

Conta Alcebíades Menezes que “o santo” fazia vibrações ininteligíveis, misturando um dialeto italiano com algumas expressões em péssimo português.

E rezava extensas ladainhas ao pé de cruzes, obrigatoriamente de cedro tosco, que ia plantando por onde passava.

Carregava ainda uma forma de folha de Flandres, muito enferrujada, em que moldava enormes velas de cera virgem, com que iluminava o seu culto que estendia até altas horas da noite.

A fama de milagres do “santo” começou a atrair muita gente.

As autoridades locais temiam pela “perturbação da ordem”, principalmente quando alguém contestasse a santidade do estranho indivíduo. E não houve alternativa senão pedir apoio à polícia estadual.

A Força Pública mandou então para Barretos uma “captura” formada por uns dez ou doze soldados bem armados e municiados, comandados pelo alferes João Antonio de Oliveira, o famoso tenente Galinha.

Ao saber da identidade do comandante da expedição, a multidão que estava acampada com o “santo” numa fazenda próxima de Olímpia, debandou-se.

A “captura” deteve o “santo” e recolheu-o na cadeia de Olímpia. Segundo Roque Félix, que conheceu São Francisco Miotti no xadrez, levado pelas mãos do tenente Galinha, um grupo de velhas acompanhava à pequena distância a movimentação na prisão.

Dos objetos arrecadados de São Francisco Miotti, fizeram um leilão. Com a renda, compraram o sino que serviu na cadeia de Olímpia durante muito tempo.

As velas de cera virgem, usadas pelo “santo” no culto, eram guardadas como lembranças.

O tenente Galinha levou São Francisco Miotti para a capital paulista. Segundo Alcebíades Menezes, o “santo” foi internado no hospício de Juqueri, onde terminou seus dias como excelente jardineiro. A imprensa paulistana da época o chamava de o “Santo de Barretos”.



Publicado originalmente no jornal O Diário de Barretos, edição de 31 de março de 1993

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Última parte - Epílogo da zona

No final de 1960, na gestão do prefeito Christiano Carvalho, o confinamento foi transferido para o bairro Alvorada. Hoje, praticamente não existe. As “casas de família” invadiram a zona, expulsando as meretrizes. As famosas “chacrinhas” começaram a predominar.


7ª e última parte de reportagem publicada no jornal O Diário, edição de 19 de maio de 1991, sob o título “Do Bico do Pavão a Rosinha da Porteira”

Parte 6: O homossexual Beni

Um dos mais famosos homossexuais de Barretos nos anos 40 a 60, Benedito Carlos Piacentini, o Beni, tinha 58 anos em 1991 e morava em Jaboticabal, onde mantinha uma hospedaria. Ele é autor do livro: “Beni, o Mito Sexual de Uma Época”, em que conta a sua história. De fino trato, com invejável memória, Beni também publicou “A Casa Verde da Beira da Linha – Onde a AIDS Não Tinha Vez”, com episódios acontecidos em uma residência na Rua Fábio Junqueira Franco, no Bairro Exposição, entre os anos 58 e 68. O livro também conta de forma bem picante, a história do “Bico do Pavão” e da “Rosinha da Porteira”
Beni chamou a atenção dos barretenses a partir do carnaval de 1947, quando desfilou com fantasias femininas. Muitos caipirões pensavam inclusive que fosse mulher, em virtude de seus modos, trejeitos e beleza. Durante muito tempo trabalhou no comércio da cidade. Antes de freqüentar a zona do meretrício e montar sua própria casa, era “figurinha fácil” no “rendez voux” do idoso alcoviteiro Acácio, que também vivia do curandeirismo e cartomancia. Beni tinha como grandes companheiros, o garçom Diquinho e Ewelyn Rafael da Silva, que também mudou-se para Jaboticabal.


6ª parte de reportagem publicada no jornal O Diário, edição de 19 de maio de 1991, sob o título “Do Bico do Pavão a Rosinha da Porteira”

Parte 5: Rosinha da Porteira

Rosinha adquiriu o apelido ainda jovem, quando abria a porteira em uma fazenda do governo em Sertãozinho, recebendo em troca moeds de 200 e 400 réis. Deflorada, pela volumosa quantia de 10 mil réis, foi expulsa de casa. Então, veio para Barretos e desembarcou na Estação Ferroviária da Paulista com a importância de 17 mil réis. Trabalhando para a anfitriã Barretinha, filha de Katuta, Rosinha da Porteira economizou dinheiro e, em 1939, comprou o prostíbulo em que se hospedava, tornando-se com o tempo, uma das senhoras mais ricas da cidade. Há uma lenda, “desmentida”, de que teria um ânus de prata.

A 2 de maio de 1947, Rosinha da Porteira adquiriu a “Pensão Chic” na esquina da avenida 17 com a rua 26, sendo considerada uma mulher vivaldina. Depois de algum tempo, ela passou a residir na rua 28, avenidas 15 e 17. Depois, mudou-se para Ribeirão Preto, onde, idosa, doente e debilitada, faleceu.



5ª parte de reportagem publicada no jornal O Diário, edição de 19 de maio de 1991, sob o título “Do Bico do Pavão a Rosinha da Porteira”

Parte 4: Os apelidos e nomes de guerra

Os apelidos e nomes de guerra das prostitutas, cortesãs e marafonas sempre foram interessantes. Muitos conheceram Iolanda Ban Ban, Papuda e Topetuda, Ana Toco Rolô, Decaída Nena, Sebastiana Pé de Meia, Luiza Cabeça de Pano, Iolanda do Catigiró, Constantina Bangue-Bangue, Cecília Gibória, Cósquinha, Geralda Galo Cego, Bordelina, Chica e Luzia Pemba, Rainha do Tabaco, Tereza Mula Manca, Cida Carabina, Furupa, Bizaca, Maria Mole, Neuzirê, Sebastiana Pé de Molambo, Maria do Arroz, Izolina Cachambuda, Lídia Pé de Cachorro, Negra do Quifafá, Odete Pé de Bicho, Vitórias das Jóias, Madame Vanda, Madame Dulce, Conga, Bola Sete, Chiquinha Vitróla, Baleira, Chibiu, Meire Turca, Pinta Roxa, Balalaiquinha, Geralda Topete, Rosinha do Campim, Angelina Bacia, Negrinha Boiadeira e Almerita (também chamada de “Greta Garbo” barretense).



4ª parte de reportagem publicada no jornal O Diário, edição de 19 de maio de 1991, sob o título “Do Bico do Pavão a Rosinha da Porteira”

Parte 3: Os cabarés em Barretos

Naqueles tempos, havia alguns cabarés conhecidos, às vezes, “verdadeiras espeluncas em que a sanfona animava as danças em meio as pancadarias, às facadas e ao tiroteio”, registra Ruy Menezes. “Um ficou famoso ao seu tempo: o ‘Pedro Isca’, autêntico símbolo da desordem. Outro era o ‘Torrador’, que se situava à rua 22, na esquina com avenida 3, perto dos trilhos da estrada de ferro, onde antes havia uma torrefação de café. E havia ainda mais outros, como o ‘Paineira’, assim designado por uma paineira que crescia em suas imediações, cada qual mais turbulento e agitado que o outro”.

Segundo Ruy Menezes, “o Bico do Pavão hoje já não mais existe, graças à ação enérgica do então subdelegado Jorge Abdala Thomé, que acabou espantando de lá as meretrizes, fechando-se em conseqüência os botequins e cabarés”. A partir de 1946, quando o meretrício foi transferido para as ruas 26, 28 e 30 e avenidas 17 e 15, o Dancyng “A Garota”, foi apelidado “Puxa Faca”, em virtude das constantes confusões e mortes. Alguns exagerados da época, garantem que quando não ocorria duas ou três mortes por noite, era “café fraco”.

Aqueles que dispunham de muito dinheiro, freqüentavam cabarés luxuosos. O mais famoso foi o “Cabaré Maringá”, na rua 20, avenidas 15 e 17. Posteriormente, foi substituído pelo “Dancyng Avenida”, também “Cantina do Nagib”, na esquina da rua 26 com avenida 15. Os shows eram deslumbrantes, visto que os estabelecimentos promotores ostentavam luxo. Artistas internacionais e companhias de balé proporcionavam espetáculos com freqüência. Durante muito tempo, o “Cassino Tropical” e “Cassino OK” funcionaram no prédio que abrigou a Estrela D’Oriente e onde está instalado o Escritório Bóro Contabilidade, na avenida 17.


3ª parte de reportagem publicada no jornal O Diário, edição de 19 de maio de 1991, sob o título “Do Bico do Pavão a Rosinha da Porteira”

Parte 2: As divisões da zona

A zona do meretrício dos tempos áureos era dividida em duas classes. A elite esparramava-se pela cidade a partir do antigo “Bar do Costa”, na esquina da rua 20 com avenida 15. O baixo meretrício situava-se lá no “Outro Mundo”, como se chamava o bairro Fortaleza, nas imediações das avenidas 1,3 e 5 e ruas 22 e 24. Ali se instalava o famoso Bico do Pavão.

No livro “Espiral – História do Desenvolvimento Cultural de Barretos”, Ruy Menezes conta que “pouca gente que se prezava tinha coragem e disposição para passar ali, mesmo durante o dia. Zona conflagrada por excelência, mulheres de nula categoria, peões embriagados, dando tiros para o ar no meio da rua e enchendo os botequins onde a cachaça era sorvida à larga”.

As “casas de tolerância” de primeira classe eram freqüentadas por fazendeiros, milionários, políticos, comissários de grandes boiadas e personagens da sociedade de Barretos, região e outros Estados. Em algumas residências e cabarés, não eram permitidas pessoas negras, mulatas, cabelo carrapicho e pobres. Os porteiros mandavam a “gente de segunda categoria” freqüentar o “Bico do Pavão”.

O jornalista Ruy Menezes relata que no meretrício “compunha-se o mulherio de todos o tipos e feitios, desde as belas ‘paraguaitas’ às bonitas morenas de Araguari ou de Uberaba, até as indefectíveis francesas, uma fauna à parte em meio às paisagem humana de Barretos. Bem vestidas, com exagerados decotes, recamadas de jóias, entregavam-se à tardinha ao “trotoir” pelas ruas centrais da cidade, como se fossem mercadorias de luxo expostas em “vitrines” movediças. E ficavam até o início da primeira sessão de cinema às 19h30, quando, assistindo aos filmes, ocupavam, as mais ricas, os lugares de maior projeção e saliência, as “frisas”, enquanto as de “classe média” digamos assim, misturavam-se ao povo da platéia. Depois, as noitadas nos cabarés. Porém, era no carnaval, que as “marafonas” se destacavam muito.

Cavalheiros e coronéis, assíduos nos prostíbulos, subiam nas mesas e atiravam notas de 500 mil réis – denominadas ‘caolhas” – para as “mariposas”. Alguns faziam cigarros com o dinheiro, colocavam fogo e fumavam, numa demonstração e poderio econômico, incentivando as mulheres para a orgia. Alguma donas de casa e prostitutas, ludibriavam os fregueses, aumentando a conta enquanto os “trouxas” estavam distraídos na farra.



2ª parte de reportagem publicada no jornal O Diário, edição de 19 de maio de 1991, sob o título “Do Bico do Pavão a Rosinha da Porteira”

Parte 1: O meretrício

No período do eldorado barretense, com a “febre do gado”, a cidade abrigou uma instituição rentável, uma verdadeira atração turística: o meretrício. Os prostíbulos, conhecidos por lupanares ou pensões, eram freqüentados por gente de toda espécie, do milionário ao “pé-rapado”. O considerado “antro da perdição” movia o comércio e o município.

Sob a bandeira da moral e dos bons costumes, em 1910, algumas pessoas pediam providências ao delegado de polícia “para a malta de vagabundos e mulheres de vida airada” que todas as noites se reuniam na Estação Ferroviária, com comportamento inconveniente.

Osório Rocha, no livro “Barretos de Outrora”, conta que em 1918, Mario Barbosa, funda um cassino na rua 20, no prédio onde fica a União Síria. Segundo o historiador, “as senhoras barretenses se alarmam e protestam, com razão, pois ali impera o vício: bebida, jogo, vadiagem, mulheres”. O valentão Filogônio de Carvalho, que domina a cidade em 1925, é um dos freqüentadores e, de revólver à cinta, toma com as artistas lições de tango argentino.

Em 1919, a Câmara Municipal foi “honrada” com a vizinhança de um bordel. O fato provocou a indignação de muitos moradores.



1ª parte de reportagem publicada no jornal O Diário, edição de 19 de maio de 1991, sob o título “Do Bico do Pavão a Rosinha da Porteira”