PITA FOGO BARRETOS

PITA FOGO BARRETOS

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Boi causa confusão no centro da cidade

Durante muito tempo Barretos conviveu com os “estouros” de boiadas. Na terra do gado muitas histórias são contadas sobre tais episódios. Alguns deles ficaram famosos. Viraram lenda.
No dia 25 de abril de 1940, por volta do meio dia, um boi agitou o centro da cidade. Desgarrado da manada, o animal foi acossado na Rua 14 por dois peões. O “bicho” acabou dando um baile nos boiadeiros, correndo pela rua até a Avenida 17. Daí seguiu até a Praça Francisco Barretos, onde ficou parado, observando o movimento.
Sentindo-se perseguido, o animal adentrou a “Casa Oriente”. A loja estava vazia. Era hora do almoço. Funcionários e fregueses tinham saído. Lá funcionava uma alfaiataria de propriedade de Alcino Abdala.
O boi “fumaça” entrou no prédio, não quebrou nada e foi parar na sala dos alfaiates, ficando entre as máquinas de costura e a mesa do contramestre. Descoberto, foi laçado pelos peões.
Na saída da loja, o boi provocou estragos. Na luta com os peões, foram danificadas duas vitrines, um manequim, entre outros objetos. Os prejuízos foram avaliados em 500$00. Na confusão, o proprietário Alcino Abdala machucou o braço. Mas o episódio não passou de um grande susto, com algum xingatório.

Publicado originalmente no jornal “Documento Diário”, edição de 5 de março de 1993, sob o título “A farra do boi fumaça”.

sábado, 27 de novembro de 2010

Duro, Pancho arremata prenda na festa

A Festa do Divino estava animada na Praça Francisco Barreto naquele mês de julho de 2007. Os shows prendiam a atenção do público. Os leilões eram intercalados com as apresentações. Bem no meio da festa, Lourival Lemes dos Santos, o Radinho, degustava um frango arrematado na quermesse. Eis que surge Luiz Carlos da Silva, o fotógrafo Pancho, que vendo o amigo sozinho à mesa, resolveu fazer companhia.
Quando Pancho saiu de casa naquela noite, após registrar um casamento, a esposa Margarida fez a recomendação. Por contenção de despesas, ele não podia gastar nada na Festa do Divino. O fotógrafo concordou com a argumentação, tanto que não levou consigo “um tostão” no bolso.
O ator Euri Silva, falecido recentemente em acidente de moto, era o leiloeiro oficial da Festa do Divino. Havia muitas prendas. O quarto de leitoa estava “encalhado”. O produto estava difícil de vender em virtude da variedade e quantidade de alimentos oferecidos ao público.
Também lá estava eu fotografando a festa. Registrando imagens dos shows, danças, apresentações de artistas variados. Quando me viu perto do palco, Pancho fez um aceno de cumprimento. Respondi.
Naquele momento, o leiloeiro Euri Silva estava “fechando o negócio” com a prenda.
--“Dou-lhe uma..... dou-lhe duas....”.
Ao ver o aceno de Pancho, bateu o martelo:
--“Dou-lhe três!..... Vendido para o Pancho..... por 35 reais.....”
O leiloeiro não percebeu que o aceno do Pancho era para mim e não para ele. Mesmo assim, a prenda foi parar na mesa em que estava o “arrematador”. O problema era que o dito cujo não tinha dinheiro no bolso. Estava duro. Aí, não teve jeito. Apelou para o Radinho, que lhe emprestou a grana.
Ao voltar para casa com aquele “quarto de leitoa” embrulhado em papel celofane, Pancho ainda teve que ouvir as “broncas” da Margarida:
-- “Não te falei que não era para você gastar dinheiro na festa????????”

Pancho e Radinho na Festa do Divino de 2007

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Café Goiano, "as primas" e a cachaça

O Café Goiano, no alto da rua 28, em Barretos, era tradicional ponto de encontro de peões. Ali os comissários contratavam seus ajudantes. Os peões atraíam o mulherio e vice-versa. O que ganhavam no estradão gastavam na farra com “as primas” e a cachaça. Neste ambiente, ocorriam algumas brigas. Assim morreu Belmirão, contou Gentil Prata:
-- “Dois cunhados estavam tomando cerveja e começaram a discutir. Belmirão interveio: -- Mas que homens sem-vergonha, gente! São parentes e brigam por cachaça...”
-- “Um dos sujeitos não gostou da interferência. Sacou de um revolver e disparou três tiros contra a cabeça de Belmirão. Matou meu cozinheiro e companheiro de viagem”.
Assim lembrou Gentil Prata.
-- “Brincalhão, meu amigo bebia mas era inofensivo. O crime ficou gravado na minha memória”.
Depois da confissão, o comissário recordou que certa ocasião trazia cerca de 1.200 bois para Barretos. Antenor Duarte, avô de Henrique Prata, era o dono do rebanho. Na Volta Grande, Minas Gerais, entre Guaíra e Uberaba, a boiada estourou. Foram 5 dias para reunir a manada. E ainda ficaram 8 cabeças de arribada (para trás), conduzidas posteriormente ao seu destino. O fato fez com que Gentil Prata comentasse:
-- “Nestas ocasiões, o peão assusta, sente medo e o perigo de perto”.
Na opinião de Gentil Prata, berranteiro bom atrapalha a condução da boiada:
--“Peão boiadeiro tem suas manhas. Quando chega nas vilas, currutelas, patrimônios e cidades, ele começa a florear no berrante para chamar a atenção dos moradores. O povo ajunta e espanta a boiada”.
Referiu-se sorrindo a respeito do berranteiro que mais ganhou título no concurso em Barretos.
-- “O Alceu Garcia me fez muita raiva”.
Ao garantir que “baile no mato é mais gostoso”, Gentil Prata confessou seu gosto por um pagode, onde “agarrava nas escadeiras da Maria”.
Ressaltou, entretanto, que “hoje acabou.... nem no sonho!...” E confirmou a fama que peão de boiadeiro é mulherengo, com muito “rolo” pelos lugares onde passa. Sério, sustentou que como comissário sempre procurou se afastar das “oportunidades” para não dar mau exemplo.
Nascido em 5 de maio de 1913, Gentil Prata já se foi....

Publicado originalmente no jornal O Diário, edição de 19 de agosto de 1997, com o título “Gentil Prata no tempo das comitivas”.

Eu, Deus, as galinhas e o cachorro

-- "Quem mora nesta casa?"
Perguntei numa tarde de agosto de 1997 ao aposentado Gentil Prata, pai do misto de cozinheiro e berranteiro Adelino Prata, o afamado Sarará.
-- "Eu, Deus, as galinhas e o cachorro".
Assim respondeu aos 84 anos o velho comissário de comitivas boiadeiras, nascido em São Francisco de Sales, MG, filho de José Prata e Maria Francisca Prata. Do signo de Touro, era morador em Barretos desde 1953. A casa em questão ficava na rua 38, entre as avenidas 31 e 33, na Vila Baroni.
Durante mais de 40 anos Gentil Prata foi comissário de comitiva. Cuidadoso, escolhia “a dedo” os seus contratados para transportar boiada pelos rincões brasileiros. Havia muito peão “amolante”, que gostava de confusão, encrenqueiro, enjoado, reclamador, queixoso de tudo....
-- “Se o cozinheiro lhe oferecia uma canequinha de pinga ele queria duas. Se dava duas, pedia três. Recebia três, desejava a garrafa....”
Vindo de Minas Gerais, o comissário mudou-se para Paulo de Faria, SP, em 1933. Naquela época, trabalhava como peão, mas aos poucos foi comprando uns “burrinhos” até formar sua própria comitiva. Buscava gado no Centro Oeste, trazendo-o para “engorda” em Icem, SP, onde havia muita invernada. Depois, os animais seguiam para Barretos, onde eram abatidos no Frigorífico Anglo, Charqueadas Minerva e Bandeirante.
Gentil Prata contou que cerca ocasião vinha trazendo uma boiada de Rondonópolis, MT, para Riolândia, SP. Eram 1.200 cabeças de propriedade de Fiíco Ribeiro, pai do ex-prefeito barretense Ari Ribeiro de Mendonça. Na culatra (final da boiada) estavam Belmirão e Santo. No trajeto, se desentenderam. Um peão não conversava com o outro. Estavam de mal. O pouso tinha acontecido na currutela (vilarejo menor que cidade) de Santo Antonio, perto de Três Lagoas, MS. A certa altura da marcha, enquanto o comissário contava os bois, Santo resolveu ir até Belmirão. Sentindo-se provocado, o culatreiro esbravejou:
-- “Aonde ocê vai, nêgo sem-vergonha, Fio da Puta???”
-- “Fio da Puta é ocê!”
Foi o que respondeu Santo imediatamente.
-- “Entonce ocê não vai mais pro Barreto. Eu vô ti matá, disgraçado!...”
Assim que gritou, Belmirão partiu para cima de Santo. Amarelado, ele pisou quente, meteu a espora na mula, que escoiceava. O animal passou perto de um precipício, esbarrancando-o.
-- “Se cai lá em baixo, morre na certa!”
Advertiu com firmeza Gentil Prata.
Porém, o fujão conseguiu bater em retirada, escapando de seu perseguidor. E a viagem continuou, sem os dois trocarem palavra ou olhar. Entregue a boiada, o comissário pagou-os em Barretos. No outro dia, encontrou-os juntos, bebendo cerveja no Café Goiano. Amizade refeita...

 
(a história continua na próxima postagem)

Publicado originalmente no jornal O Diário, edição de 19 de agosto de 1997, com o título “Gentil Prata no tempo das comitivas”.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Há mais de 36 anos acontecia o casório de Fifurfino Pixaxau e Dores dos Prazeres

-- O sinhô Fifurfino Pixaxau de Oliveira Pinto aceita casá com a sinhorita Rosinha Dores dos Prazeres?

Depois dos “sims” convenientes e de todos os conformes do casamento caipira a dança da quadrilha animou a Praça, lotada de gente. Era mais uma festa junina da Comunidade de Jovens Cristãos da Paróquia. O evento constava da programação da quermesse que visava arrecadar fundos para as obras do atual Santuário de São Benedito, em Barretos.
Os noivos do casório eram o José Maria de Almeida, o Juca, radialista outrora conhecido na cidade, e Maria José. O Zé Maria é afamado apicultor em Goiás. Hoje o casal mora em Goiânia e tem até netos. 
O “vigário” que sacramentou o “enlástico matrimoniar” era o “Coroa”. Dedé, Paulo Borges, Nininho, Hélio Diamantino, entre outros, foram os padrinhos na “cerimonha”. Também entraram na dança, Ana Lucia e Cristina Borges, Toninho do Sambão, Kiko, Fatinha, Maria Amália, João Luiz e José Luiz Polizelli, Tião Vilaça, Carlinhos, entre tantos.
A lembrança é de 1974. Bons tempos, aqueles.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

O destemido peão Zé da Prata

Beirando a linha férrea, lá pelos lados onde hoje se localiza o bairro Alvorada, a peonada tangia uma boiada. Eram 1.300 cabeças que vinham da Fazenda Posse. A propriedade ficava perto da Água Doce, hoje, Icem. A marcha durava alguns dias. O destino era o abate no Frigorífico Anglo, em Barretos. À frente da manada estava o ponteiro Zé da Prata, destemido peão de boiadeiro e domador. No trajeto pensava:
--“Está chegando a hora de enfrentarmos aquele barrão branco”.
E lembrava dos “baitas” barrancos, já imaginando que algum animal poderia ficar atolado. Referia-se à passagem do córrego Aleixo, próximo onde hoje está instalado o supermercado Compre Bem.
De repente, soa o apito do trem. Lá vinha a locomotiva da Companhia Paulista puxando alguns vagões de passageiros. O destino era as estações de Alberto Moreira e Colômbia. A máquina estava a todo vapor. Os peões ficaram alerta. O ponteiro tocou no berrante o sinal de advertência. À medida que se aproximava o encontro do “bicho” com os animais, a tensão ia aumentando. Os passageiros, percebendo a boiada, corriam à janela para ver o gado. Alguns acenavam. Balançavam jornais, panos.... Em dado momento, o susto....
A boiada espantou-se. Estourou. Virou para trás e desembestou. Os peões que tocavam o gado abriram passagem. Encostaram-se à beira da cerca e deixaram a manada passar. Ao redor, o arranha-gato dava medo. O atropelo era grande. O barulho infernal. A poeira levantava. O perigo era enorme. Não havia cerca, barranco ou grito que parasse o rebanho. Uma correria impetuosa. Os animais estavam incontroláveis. O desastre, previsível.
Zé da Prata, que ia à frente da boiada, ao ver a cena, não titubeou. Cutucou a mula e saiu vazado. Cortando caminhos. Corajoso, queria tentar cercar a manada, embora isso fosse função dos culatreiros. Como os companheiros não tomaram iniciativa, o ponteiro não esperou. Acostumado com o caminho, sabia onde tentaria barrar os animais.
Na subida do Ponto de Pouso São Domingos (atualmente Via das Comitivas, que liga a cidade ao Parque do Peão), Zé da Prata parou a mulinha. Imediatamente, saltou da montaria. Tirou a capa da cabeça do arreio. Começou a rodá-la. Assustados, os bois foram parando. Alguns caíram de prancha. Davam trombada uns com os outros. Enquanto ia convencendo os quadrúpedes a parar, os companheiros foram chegando para ajudar. Controlado, o gado prosseguiu viagem, Mas o sufoco foi grande.
O taurino Zé da Prata nasceu em Barretos a 9 de maio de 1925. Os pais Honorato Alves Faria e Maria da Conceição Figueira batizaram-no José Honorato. Aos 9 anos de idade começou a lida campestre. Ficou afamado como domador de burros e peão de boiadeiro. De 1948 até 1963 trabalhou nas fazendas da Companhia Anglo. Em 1952, contraiu núpcias com dona Guiomar Oliveira Faria. O casal teve filhos e netos. Professou a religião católica e torcia para o São Paulo Futebol Clube.
Segundo o peão, a última venda que havia para os lados do São Domingos era da Maria Martins. Perto onde hoje se encontra a União dos Empregados no Comércio havia um pasto de aluguel do Chico Carboni. Ali a peonada soltava a tropa. Os animais matavam a sede num poção d’água. O rancho de dormir era abrigo garantido para o descanso dos estradeiros.
Zé da Prata participou várias vezes do desfile típico da Festa do Peão de Boiadeiro. Peão arrojado, amansador audacioso, enfrentou inúmeros desafios no estradão. Fez viagem que durou 107 dias.
Proseei com Zé da Prata em agosto de 1999 quando ele já estava com 74 anos de idade. Aposentado, ficava sentado num banquinho defronte a casa que morava, na avenida 57, no Jardim São Paulo, ao lado da Vila Marília. Gostava de conversar sobre o seu passado, mesmo com a memória “ruim”. Garantia que não tinha saudades dos tempos de outrora. “Fiz o que tive vontade de fazer. Fiz rolo que dá medo”.
Foi minha última conversa com o velho peão. Tempos depois, fiquei sabendo que falecera.


-- Publicado originalmente no jornal O Diário, edição de 24 de agosto de 1999.

sábado, 6 de novembro de 2010

A praga do padre

Um terrível “furacão” atingiu o município de Barretos, tendo como alvo a próspera vila de Itambé (hoje, Ibitu), deixando-a um montão de ruínas. A tragédia aconteceu no dia 26 de setembro de 1926, por volta das 20 horas. Foram registrados apenas ferimentos leves em alguns moradores, apesar do vendaval acompanhado de descargas elétricas e granizo, deixar o vilarejo semi-destruído. Cessada a intempérie, da Igreja nova restavam em pé apenas a fachada e a parede dos fundos.
Até a pouco tempo, ao lado da via principal do Distrito, junto ao muro da atual escola, estava fincado o que restou da cruz da igreja derrubada. Hoje não há mais indícios da cruz. Nada sobrou.
Os jornais paulistas da época noticiaram o fato com alarde. As vítimas foram socorridas pela Cruz Vermelha Brasileira e por campanhas de várias cidades da vizinhança. Os barretenses também foram mobilizados para ajudar os flagelados. Avaliados os danos, a origem do “furacão” provocou controvérsias. Uns atribuíram a continuação de um ciclone que teria passado pela Flórida, EUA, atravessando o Equador e caído sobre a cidade de Encarnación, no Paraguai. O Observatório Astronômico de São Paulo não conseguiu dar explicações convincentes aos especuladores do vendaval.
Para os velhos itambéenses, o “furacão” foi a conseqüência, a realização de uma praga. Contam que por volta de 1906, estiveram em Itambé, em missão religiosa, dois padres capuchinhos, que se hospedaram na única pensão existente no lugar e que pertencia a Pedro Pereira da Silva, mais conhecido por Pedro Sant’Ana. Este Sant’Ana era um incorrigível brincalhão e não quis perder a oportunidade de fazer uma das suas com os padres. Estando estes de animais arreados para sair da povoação, ele e mais um companheiro arranjaram uns sabugos de milho e uns pedaços de fumo de corda, e meteram tudo isso sob os arreios. Quando um dos padres galgou a sela, o macho, castigado pela dor, saiu aos pinotes, atirando ao chão o bisonho cavaleiro. Descoberta a troça, furiosíssimo, o sacerdote atirou sobre o povoado uma terrível praga, que nunca foi esquecida.
Quando do “furacão” de 1926, arrasando impiedosamente a vila, grande parte dos habitantes de Itambé, atribuíram a causa a maldição do padre, que teria dito entre outras coisas, que o vilarejo nunca conheceria o progresso. Hoje, no Ibitu, tem gente que não gosta de ouvir ou tocar no assunto. Dizem que tal fato é bobagem. O distrito está se desenvolvendo...


Publicado originalmente no Jornal O Diário, edição de 19 de junho de 1988.