PITA FOGO BARRETOS

PITA FOGO BARRETOS

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

O caso da aparição da Virgem Maria na cidade na década de 50

Duas reportagens publicadas pelo “Correio de Barretos” em 1956, edições de 19 de agosto e 7 de outubro, repercutiram na cidade. Nelas, o funcionário público José Lúcio dos Santos, o Zé Lúcio, declarava que a Virgem Maria lhe teria aparecido algumas vezes. Nascido em Iporanga, no Vale do Ribeira, interior de São Paulo, a 30 de junho de 1918, veio para Barretos em 1943. Casou-se, teve filhos e netos. Clarinetista, funda em 1959 a Corporação Musical “Imaculada Conceição”, que posteriormente se incorpora a Lira Barretense. No livro “Espiral – História do Desenvolvimento Cultural de Barretos”, Ruy Menezes cita o trabalho do músico.
Quando trabalhava como servente no Grupo Escolar Cel. Almeida Pinto, começou a ter uma visão estranha, de uma moça loura, muito bonita. O “fenômeno” deixava o funcionário muito nervoso, perdendo os sentidos. Preocupado, pediu transferência para o Grupo Escolar da Vila Baroni, pensando que, assim procedendo, as aparições terminariam. Foi transferido de escola. Contudo, a visão continuou.
Zé Lúcio contou que no dia 3 de agosto de 1956, uma segunda-feira, por volta das 10 horas, estava estudando matemática, sentado num banco, no recreio do Grupo da Vila Baroni. Nesta época o servente cursava a 3ª série. A manhã estava fosca, céu nublado, pois chovera na véspera. De repente, sentiu um facho de luz, que clareou as páginas do livro.
Piscando, pelo efeito da claridade nas vistas, Zé Lúcio afirmou que olhando para o poente, vislumbrou no ar, numa altura de 15 metros, mais ou menos, uma figura de mulher, de uns 30 anos de idade. Ele já conhecia a “Senhora”, pois era a mesma que lhe aparecera na Escola Almeida Pinto. Tinha um metro e meio de altura, aproximadamente. Suas roupas eram brancas, mas, de uma alvura singular, todas envoltas em luz ofuscante, claridade essa que mais se acentuava no rosto e cabeça. Atônito, o barretense contou que a aparição lhe falou com uma voz meiga, que jamais esquecerá.
-- “Não tenhas medo, meu filho! Eu sou a Mãe de Jesus!”
Em seguida, a “Senhora” disse que o mundo estava à beira do abismo, pela falta de religião dos homens e por causa de sua grande perversidade. A Virgem pediu que o rosário fosse rezado com mais amor e devoção para que o mundo se livrasse da situação calamitosa em que se encontrava. Disse, ainda, que gostava muito do Brasil e condenou as modas femininas da época.
Zé Lúcio informou que a aparição durou cerca de 15 minutos, retornando posteriormente quando estava na diretoria da escola. Na ocasião, ele chamou a atenção, para o ato, da diretora Ermelinda Schultz Silva. Ouvida pela reportagem do “Correio de Barretos”, a diretora confirmou que, de fato, o servente Zé Lúcio, em sua sala, bradava que estava vendo a Virgem Maria e tanta sinceridade havia em suas palavras e se tratava de um senhor tão sério e distinto, trabalhador e correto, que não tinha ela dúvida em dar-lhe crédito. Sobre o mesmo assunto, o jornal ouviu ainda o diretor da Escola Almeida Pinto, Luiz Castanho Filho, onde antes trabalhava o servente. O professor fez as melhores referências sobre Zé Lúcio, não descrendo da possibilidade da aparição.
A 3 de outubro de 1946, por volta das 10h40, quando vinha de bicicleta do Grupo da Vila Baroni, ao chegar à rua asfaltada, viu em sua frente, novamente, o conhecido clarão que precede, sempre, as aparições. Em seguida, surgiu a Mãe do Céu, a uns 3 metros de altura do chão, resplandecente como de costume.
A Virgem falou-lhe então, que, agora que ele havia perdido o medo, iria aparecer-lhe sempre. Recomendou a prática da castidade, muita oração, penitência, respeito pelo templo e pelos mandamentos da Lei de Deus. Ao dizer a “Senhora” que muita gente na cidade não dava crédito às aparições, foi informado por Ela que, em breve, daria prova concreta da realidade das visões, a fim de afastar quaisquer dúvidas.
Quanto a um pedido antigo, que Zé Lúcio fizera à Virgem para zelar pelo seu filho Paulinho de Tarso, que estava no seminário, veio uma resposta contundente. Garantiu-lhe Ela que faria do seminarista um digno sacerdote.
Passados 36 anos, entrevistei Zé Lúcio, que mantinha a convicção da autenticidade das aparições, descartando a hipótese de ilusão, alucinação, sonho ou fantasia. As provas concretas prometidas pela Virgem não aconteceram porque Ela não apareceu mais, justificou. Alegou que não sabe explicar o motivo da ausência da “Senhora”, mas espera um retorno das aparições.
O filho de Zé Lúcio, Paulo de Tarso, ficou uns 3 anos num Seminário em Campinas e não se tornou padre, conforme prometera a Virgem. Em 1992 era gerente de uma agência bancária. Zé Lúcio garantiu que a Mãe de Deus não falhou na promessa. Alegou que quem atrapalhou a carreira sacerdotal do filho foi um vigário da época. O padre teria enviado uma carta ao reitor do seminário, recriminando a conduta do jovem durante as férias. O motivo apresentado teria sido “os espíritas” da família.
Após as aparições, Zé Lúcio ficou muito “reservado”. Atendeu ao conselho do padre Paulo Campos Dall’Orto que teria dito para ele não procurar ninguém para falar sobre o assunto, evitando principalmente o assédio dos espíritas. Garantiu que nunca procurou ou foi procurado por qualquer pesquisador, psicólogo, psiquiatra, parapsicólogo, para o estudo das aparições.
Quando o entrevistei, no quarto da residência de Zé Lúcio havia um oratório com uma imagem de Nossa Senhora da Imaculada Conceição de quase meio metro de altura. Ali, o vidente mantinha uma vela acesa e rezava terços diariamente. Com orgulho, mostra um cartão enviado de Portugal com a foto da Irmã Lúcia – vidente de Fátima, na época ainda viva – com o Papa João Paulo II e os retratos de Jacinto e Francisca. Zé Lúcio mostrou cópia de carta enviada a Irmã Lúcia em maio de 1990, respondida a 5 de julho do mesmo ano.
Zé Lúcio acredita que tem o poder de cura, mas não o exerce temendo ser processado pelos médicos pela prática de “curandeirismo”. Contudo, atende a muitos pedidos de oração, enquanto se abstém do dom da “imposição das mãos”. Revelou que já contou sobre as aparições para o bispo Dom Pedro Fré, para o vigário da Catedral, padre Cesar Luzio, e para o padre Gabriel Correr, seu confessor.
A reportagem do “Correio de Barretos” de 7 de outubro de 1956, classifica Zé Lucio como homem direito, católico, chefe de família, honrado, cumpridor de seus deveres, normal, sadio, cuja palavra deve merecer a consideração geral. Argumenta que tendo a história dessas aparições registradas já tantos fatos comprovados, como Fátima, Guadalupe, Lourdes e outras, por que descrer que somente o caso em tela é que não pode ser autêntico?
O jornalista lembra que “para os incrédulos, entretanto, há agora, a promessa de Nossa Senhora, de que, em breve, dará provas concretas da veracidade das visões de Zé Lúcio. Resta-lhes, apenas, nessas condições, esperar”.
Em 1992, havia passados 36 anos e a espera continuava... e pelo jeito prossegue até hoje.


Publicado originalmente no jornal O Diário, edição de 25 de outubro de 1992.

Nenhum comentário:

Postar um comentário