PITA FOGO BARRETOS

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segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Dermeval: o "cardeal" dos palcos teatrais recebeu a gratidão dos seus admiradores

Artista, alfaiate, corretor de imóveis, contabilista, colaborador de jornal, radialista, vereador, esportista, Dermeval de Almeida – um verdadeiro “homem de 7 instrumentos” – nasceu em Jaboticabal em 16 de março de 1899, filho de Candido José de Almeida e Olímpia Ferraz de Almeida. Seu pai o registrou a 2 de agosto do mesmo ano, episódio que concedia a Dermeval o direito de receber dois presentes de aniversário por ano.
Dermeval de Almeida veio para Barretos em 1912, indo trabalhar como aprendiz na alfaiataria de Hugo Moni. Em 1921, passou a dedicar-se a contabilidade. A 19 de janeiro de 1935 casou-se com Joana Cesar de Almeida, tendo 5 filhos: Dermeval, Maria Luiza, Paulo Cesar, Roberto e Margarida, que lhe deram netos e bisnetos.
A estréia de Dermeval de Almeida no palco aconteceu em 1922. Convidado por Antonio Baroni, que veio de Campinas para residir em Barretos e montou um corpo cênico na cidade, o estreante começou a carreira com a peça “A Tosca”. Empolgado, propagou o feito aos amigos. Porém, na encenação, fez apenas uma “pontinha”:
-- Antonio?! – chamou um dos personagens.
-- Vossa Excelência me chamou? – respondeu Dermeval.
-- Chamei sim. Leve essa gente para dentro e dê-lhes de comer.
-- Sim. Venham!...
Dermeval de Almeida, então, saiu de cena. No outro dia, os amigos lhe questionaram sobre a sua curta aparição no palco
-- Ora Dermeval! Você não disse que ia trabalhar no teatro?
-- Mas... é só para começar – justificou.
Dermeval de Almeida lembrou da “indumentária apropriada” de sua primeira aparição em cena: “calça curta, meia comprida...” Daí para frente sua carreira não mais parou. Integrou o corpo cênico da UEC. Fez dramas, comédias, atos variados, declamou, serviu de ponto em teatro e circo. Atuou com muita gente conhecida: Ildebrando Araújo, Tibúrcio de Paula, João Falcão, João Rocha, Claudio Baston, Vilma Morais, Inês e Eunice Espíndola, José Expedito Marques, Layer Garcia de Oliveira, Janete Bampa, Luiz Carlos Arutim, Humberto Beviláqua, Ribas Filho, Maria Luzia França Chubacci, Nina, etc....
Trabalhou em inúmeras peças: A Noiva e a Égua, Nhô Manduca, Turibio 39 da Oitava, O Tio Padre, Auto da Compadecida, Os Três Sargentos, Terra Bendita, Rumo Leste a Cardef, A Tosca, A Guerra Mais ou Menos Santa, A Ceia dos Cardeais, entre outras. Contudo, o papel de caipira em “Na Roça” foi o que mais agradou Dermeval de Almeida durante sua carreira artística. Sempre gostou de personagens cômicos. Posteriormente, esses papéis passaram a ser interpretados por João Falcão, que tinha mais jeito para a comicidade, segundo Dermeval.
Não é qualquer ator amador que tem na platéia a aplaudi-lo nomes consagrados como Cacilda Becker e Valmor Chagas, como aconteceu na peça “Rumo Leste a Cardef”. Sua performance nos palcos acabou proporcionando alguns casos pitorescos. Certa ocasião, em Campinas, minutos antes de interpretar o “Auto da Compadecida”, foi confundido com um bispo de verdade, em virtude da caracterização do personagem que representava. Aliás, o “bispo” logo foi promovido. Em 1978, no programa Silvio Santos, no quadro “Cidade x Cidade”, deu a vitória para Barretos contra Marília com sua atuação em “A Ceia dos Cardeais”.
Antes da instalação de emissora de rádio na cidade, Dermeval de Almeida era apresentador do serviço de alto falante da Praça Francisco Barreto, que funcionava embaixo do coreto. Com a inauguração da Rádio Barretos, comandou programa infantil na emissora, ao lado do Maquininha e Luiz Venâncio Diniz. O programa pagava um prêmio em dinheiro para o melhor cantor dominical.
Dono de um português correto, Dermeval de Almeida não se conforma com a linguagem atual do teatro e televisão. E lamentou:
-- Falam: “não te vi”.
Reclamou ainda que hoje em dia dizem muitas bobagens na televisão e no teatro, sob a alegação que os tempos mudaram.
-- Mas eu não mudei, ressaltou.
Aposentado dos palcos e ocupando a cadeira 17 da Academia Barretense de Cultura, Dermeval de Almeida foi homenageado pela Uniart – União dos Artistas Barretenses – no dia 6 de junho de 1992, no Anfiteatro Jorge Andrade, da então Fundação Educacional de Barretos, durante a premiação do 2º Festeart – Festival Estudantil de Teatro. Ele recebeu o Troféu “João Falcão”. Foi o reconhecimento de seus admiradores pela sua contribuição e dedicação ao teatro amador de nossa cidade.

Publicado originalmente no jornal O Diário, edição de 5 de junho de 1992, sob o título Homenagem da Uniart a Dermeval de Almeida.

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